quarta-feira, 25 de fevereiro de 2015

BMH Entrevista - Reynaldo Bessa



Poeta, escritor, músico, professor... podemos dizer que Reynaldo Bessa é um artista na essência da palavra e na compreensão da vida. Nascido no Beco das Frutas, em Mossoró-RN, mas há tempos radicado em São Paulo, Reynaldo transborda poesia e costura cultura por onde passa. Com músicas consagradas nacionalmente,  teve o prazer de dividir o palco com grandes nomes da MPB. Como escritor, teve seu trabalho reconhecido ao receber o Prêmio Jabuti (poesia - 2009) com o seu primeiro livro: Outros Barulhos. Com simpatia e solicitude, Reynaldo Bessa atendeu ao pedido do musicalmente humano e nos cedeu uma entrevista de tirar o fôlego e encher os olhos a cada frase. 

BMH - É bom começar lembrando a todos que você é mossoroense. O que você aprendeu de melhor por aqui que leva até hoje em sua bagagem cultural-poética-musical? 

Reynaldo Bessa - Bom, quando realmente descobri que eu era um artista – e isso é comovente, não? Descobrir-se artista - eu estava em Mossoró. Até então eu só tinha alguns vislumbres acerca disso. Fui bancário, vendedor, balconista, entre outras tantas coisas, mas o que eu queria mesmo era cantar, compor, gravar, e voltar em videoteipes e revistas super coloridas pra menina meio distraída repetir a minha voz... (Carneiro - Ednardo) (risos). Quando, enfim,as cortinas do imaginário abriram-se para mim, vi-me caminhando pelas ruas da minha cidade e sonhando na contramão. Já cometendo as minhas transgressões poéticas permeadas dos deslizes ansiosos da juventude. Na maioria das vezes com um violão debaixo do braço e trechos de músicas na cabeça e também nos bolsos esfarrapados. Então, minhas canções trazem (ainda) o cheiro do mar, da terra, das redes de pesca, dos ruídos das feiras, do som do vento, do clima, dos costumes, das lendas, do folclore, do sabor da comida, do estalar dos primeiros beijos, tudo. Minha música sempre foi aberta a todas as influências e tendências possíveis.Vivi em muitos lugares. Ouvi muita coisa, conheci muitos outros músicos, viajei bastante desde quando saí daí. Mas minhas canções sempre trarão essa saudade de sotaque arrastado e musical.  

BMH - Em sua opinião, você tem seu devido reconhecimento em sua cidade natal? 

Reynaldo Bessa - Definitivamente, não. Mas já cansei de brigar com isso. Enfim, percebi que o reconhecimento é uma porta que só pode ser aberta por dentro. Não há trinco do lado de fora. E não adianta esmurrá-la. Câmara Cascudo dizia que o Rio Grande do Norte não consagra, mas também não desconsagra ninguém. Apesar de ter uma admiração artística (e só) por ele, acho que isso resvala um pouco num dos trechos da Bíblia (não sou católico. Sou antes de tudo um leitor) que diz: “frio ou quente, mas nunca morno...”.Uma coisa assim. Então, não se pode ser mais ou menos. Ou os órgãos de cultura fazem mesmo algo: criam possibilidades, fomentam cultura, reconhecem seus artistas, nossa arte genuína, do contrário, que larguem o osso, abram mão de uma vez por todas e assumam que não querem mesmo nadica de nada com isso. Sou livre e tenho conhecimento suficiente pra afirmar que a cidade já foi, sim, interessada na sua arte e em seus respectivos artistas, mas aos poucos foi fazendo isso feito o gato que lambe os beiços enquanto olha oque outro gato está comendo. E a coisa piorou tremendamente. Escrevi um artigo sobre isso num dos grandes jornais da cidade. O texto deixa tudo muito claro. Perdemos o rumo, o foco. Triste. Eu disse que Mossoró ainda pagaria um preço muito alto pelo consumo de tanto lixo. Isso se reflete em tudo; na educação, principalmente.Na formação do ser. Quer dizer,reflete-se no comportamento, consequentemente, nas nossas opiniões, nas escolhas de nossos dirigentes, nas grandes e pequenas decisões do dia a dia, em nossas relações em geral. Resumindo, limita muito a nossa visão de mundo. Se olharem com atenção perceberão que já estamos pagando as primeiras parcelas dessa dívida insana. O Pernambuco, a Paraíba, o Ceará e Minas Gerais, são os estados que ainda conseguem perceber a qualidade dos seus artistas. E vibram com isso, bradam, brigam, levantam bandeiras e enchem a boca de orgulho quando falam dos seus conterrâneos ilustres. Colhemos o que plantamos. 

BMH - Você faz várias alusões, direta e indiretamente, a Mossoró e a cultura nordestina. “Alfenim”, “puxa-puxa”, “beco das frutas”. Podemos dizer certamente que o nordeste floresce em você a cada composição, né? 

Reynaldo Bessa -  Como disse, minha arte está impregnada de Mossoró. Vivi intensamente essa cidade. Mesmo antes de tocar no rádio eu já era muito conhecido na cidade toda. Todos sabiam quem eu era e muitos já cantavam minhas canções. Eu pude me dar ao luxo de ver muita gente cantando minhas músicas, em shows, em bares, assobiando-as nas ruas muito antes de serem gravadas. Separar meu trabalho de toda a influência que recebi de Mossoró seria o mesmo que apartar o gosto da língua. Parte do que sou está ai. Nasci no Beco das Frutas. Minha carreira musical começou em Mossoró. Não há como negar. Esse sol loiro e de olhos flamejantes é testemunha. 

BMH - Mossoró, assim como o RN e o nordeste, ainda tem muito a oferecer ao país. Mas o que falta para resgatar tantos artistas bons do anonimato, no nosso país? 

Reynaldo Bessa -  Não adianta só ter muito a oferecer, é preciso querer. É evidente que o mercado não comporta todos os artistas, mas é preciso pelo menos que se criem meios para receber boa parte da produção que é feita na cidade. Caso contrário, o artista desiste, muda de cidade, vai fazer outra coisa e nisso, a arte e a localidade acabam perdendo muito. Por outro lado,como já disse, o artista precisa organizar-se, criar força, quer dizer, profissionalizar-se. Ele precisa saber que existe uma verba destinada ao fomento da cultura, e isso é um direito. A arte não pede, exige. É preciso exigir, com embasamento, claro. Quando ainda morava em Mossoró, exigi, corri, fiz, fui atrás. Só quando percebi que não havia mesmo nenhum interesse, decidi partir. Mesmo assim, porque fui escorraçado pela benevolência de alguns amigos mais próximos, que viviam dizendo-me que eu devia mesmo ir tentar a vida “lá fora”. Por essas e por outras, fui mesmo. Até hoje não sei se foi porque eles acreditavam em meu talento ou porque queriam mesmo livrar-se de mim...(risos) 


BMH - A sua ligação com Mossoró é forte, você gravou seu primeiro DVD aqui. Conte-nos mais sobre essa sensação de mostrar, em primeira mão, seu trabalho na sua cidade natal. 

Reynaldo Bessa -  Devo isso a Lúcia Rocha. Ela foi a ponte disso tudo. Empenhou-se de corpo e alma. Ela gosta do meu trabalho, mas, mais ainda, é uma das poucas pessoas que realmente sabem reconhecer, perceber qualidade nas coisas da nossa terra. Eu tinha acabado de lançar mais um disco. Estava com uma banda nova, cheia de vontade e já tínhamos viajado bastante com o show pelo Brasil e até pelo exterior. Estávamos bem afinados e afiados. O teatro de Mossoró é lindo. Enfim, foi um grande momento. Sou muito grato a Lúcia, entre outras pessoas. (Perdoe-me, mas não me lembro os nomes de todos os envolvidos naquele momento). É isso. 

BMH - Uma música sua, de grande sucesso, ainda é facilmente ouvida no rádio, em barzinhos... Apesar de muita gente não saber que essa bela canção é de um mossoroense. Você pode nos contar como se deu o processo de criação de “Bel’atriz”? 

Reynaldo Bessa -  Bel’atriz é uma longa história. Metade dela comecei a escrever quando estava tendo um namorico com uma atriz de uma grande emissora de tv. Uma atriz muito conhecida na época. Depois que o relacionamento-relâmpago acabou, eu segui minha vida feito quem espera uma chuva passar e retoma o seu caminho. Esqueci completamente a música. Até que um dia, quando fui tocar em Assis - para os calouros de uma universidade - encontrei a música dentro de um livro. Eu estava namorando uma estudante de Letras, e ai, apaixonado como sou, sempre, resolvi retomar a canção e fiz a música e a letra na mesma hora, e depois disse que era pra ela, a estudante de Letras (risos)... E logo em seguida esqueci a música novamente. Enfim, quando a gravei e vi o sucesso que fez, fiquei assustado. Ora, mas não era isso que eu queria? Perguntava-me. Mas o ser humano é assim mesmo, quer a felicidade, a liberdade, o amor, só que depois que os consegue, não sabe bem o que fazer com eles. Bom, a música tornou-se maior do que eu, cresceu além de mim. Até me divirto com isso. Um dia, numa das últimas vezes que fui à Mossoró, um amigo que estava comigo perguntou ao músico que estava tocando- estávamos em um restaurante - se ele poderia tocar Bel’atriz. Ele disse que sim, claro. Só que antes de tocá-la, explicou-nos como o artista havia composto a música. Eu ouvi tudo, silenciosamente. Ele falava algo completamente diferente da real situação em que Bel’atriz havia sido composta. Senti-me como se eu fosse mesmo outra pessoa...(risos)... Há várias versões acerca de Bel’atriz. 

BMH - Você tem canções retratando a cidade e o estado de São Paulo em situações cotidianas e em outras mais melancólicas, como “Lamento urbano”. Outros compositores nordestinos cantaram São Paulo, como Belchior e Caetano. Qual foi a sensação de chegar e de viver em São Paulo? É essa situação que faz a canção? 

Reynaldo Bessa - Ah, vamos andar, pelas ruas de são Paulo, por entre os carros de são Paulo, meu amor vamos andar e passear... Vamos sair pela rua da Consolação... Eis ai um trecho de “Passeio”. Belíssima canção de Belchior. Isso fez minha cabeça. Chorei muito ouvindo isso. Longe do meu mar e dos cafunés da minha mãe. Ora, eu era apenas um rapaz latino americano com menos de vinte aninhos... longe de tudo, inclusive dele mesmo... Enfim, “Lamento Urbano” é minha “Sampa’. Canção-retrato do instante em que vi este céu de concreto. Momentos de vislumbres, incertezas, medos, alegrias. Coisas inerentes ao ser humano e muito úteis na formação do artista em Si (maior e menor). Amo São Paulo. 

BMH - Você já foi gravado por Rita Ribeiro e pelo Ira. Tem parcerias com Zé Rodrix e cantou ao lado de artistas como Chico César, Alceu Valença, Moraes Moreira, Zé Geraldo, Geraldo Azevedo, entre outros.Quais são as principais influências diretas em tocar e ser gravado por nomes que você escutava? 

Reynaldo Bessa -  Vejo isso como sinais de que começamos, enfim, a fazer a coisa certa. De repente você está cercado de gente bacana e que faz um trabalho bacana, e que você admira. A Rita é uma querida amiga. Mostrou o desejo de gravar outras coisas minhas, apaixonou-se por “alfenim”, mas há gente demais, né? Acho a gravação dela de uma grandeza absurda. Ela tornou “Devastador”, uma de minhas canções em parceria com meu amigo, Marcelo Abud, numa coisa realmente devastadora. Ela assina, toma a canção pra ela. Porque é assim que faz o verdadeiro artista. Já o Grupo Ira surgiu do meu envolvimento com o Zé Rodrix. Fomos muito amigos, fizemos muita coisa juntos; trilhas sonoras para filmes, diversos projetos, tocamos juntos em inúmeros palcos. Conversávamos todas as tardes sobre os livros que líamos, fazíamos audições dos discos que gostávamos. Então, um dia o Nasi, do Ira ligou pra ele e pediu uma canção para o novo disco - Acústico MTV- do grupo. Aí o Zé me ligou e disse: “vai que é nossa Tafaréu’. Enviou-me uma letra e fiz a música no mesmo dia. Gostaram tanto que até cogitaram a possibilidade de ser a canção de trabalho (que eu costumo chamar de canção de descanso) mas, por i$$o, por aquilo outro, e algo mais, acabou não sendo. Mas ela entrou no cd do grupo, no dvd também, e depois o Nasi, em sua carreira solo (após a dissolução do grupo) a regravou numa versão muito doida. Ele dividiu a canção com uma cantora nova, a Vanessa Crongold. Muitos não gostaram. Eu gostei. Ele experimentou, o que já acho louvável.



BMH - Qual sua opinião sobre a situação da MPB, diante do tão forte mercado da música descartável que avança territórios a cada dia? 

Reynaldo Bessa -  A música descartável sempre existiu. O problema não está exatamente em as pessoas consumirem música ruim a exaustão, mas sim, o que as levou a fazerem isso. O que terá sido? (Esse é o verdadeiro ponto que pede uma reflexão) bom, ai vamos cair numa palavrinha da qual todos costumam fugir, assim como o diabo foge da cruz: educação. Na década de setenta a escola foi abandonada. O ensino foi sucateado. Só os ricos frequentavam boas escolas. Porém, dinheiro nem sempre significa boa formação... Quase nunca, e muito menos compra bom gosto, então, tudo acabou sendo nivelado por baixo. Mas o enfraquecimento da mpb, é também reflexo de diversos outros pontos. Inclusive por parte de alguns representantes da própria mpb. A maioria hoje quer fazer o que dá certo, fórmulas prontas, ninguém arrisca mais, quase ninguém. Pouquíssimos têm conhecimento da tradição musical brasileira. Em minhas oficinas de escrita criativa, toda vez que um aluno diz que vai escrever um livro, eu digo, beleza, manda ver, só não se esqueça que nós temos um Machado de Assis, um Guimarães Rosa, um Graciliano Ramos. Enfim, o mesmo vale para a trupe da mpb: façam seus discos, mas não se esqueçam das grandes figuras que já a representam, e muito bem. Hoje o aplauso é o único objetivo. mpb não é sinônimo de música boa, assim como o independente não significa selo de qualidade. Tem muita coisa ruim, muita, muita aposta em dados brancos.Furadas. Isso também ajudou a quebrar a outra perna. Agora, claro, o que o rádio toca hoje é de lascar. Não ouço mais rádio. Ouço meus discos favoritos. Aos domingos, gosto de cozinhar, abro um vinho e ponho a vitrola pra trabalhar: ai meus Milton, Fagner, Caetano, Gil, Chico, Elba, Cartola, Noel, e também toda trupe da década de oitenta, enfim... almoçam comigo. Porém, apesar de tudo, ainda aposto na música brasileira – não é a melhor do mundo, mas é uma das melhores - de qualidade porque sei que há coisas muito boas em formação. A semente trabalha silenciosamente. É natural surgir uma lacuna entre o que de muito bom aconteceu e o que de muito bom acontecerá. Esse respiro é natural. Mas pra mudar o panorama atual é preciso que se reflita, se pondere, senão...sei lá... o fato é que as pessoas assistem aos filmes que podem. Leem os livros que entendem. Cada geração tem os poetas, os artistas que merece. Não é possível comer carne de segunda e arrotar caviar, salmão. Falta cultura, falta leitura, falta. Então é falta, apito e cartão vermelho. 

BMH - Você participou de diversos festivais de músicas, inclusive foi premiado diversas vezes, mas a grande imprensa não tem dado o valor devido a esses festivais como foi dado outrora, onde surgiram grandes nomes. Acha que a falta de apoio da mídia, nesse sentido, é um dos fortes motivos para um enfraquecimento da MPB? 

Reynaldo Bessa - Acontecem mais de 300 festivais de música todos os anos. Já participei de vários. Ganhei alguns. Atuei e atuo como jurado ou fazendo a triagem das músicas em vários deles. A questão maior é que a fórmula desgastou-se, enfraqueceu. Não tem mais a mesma força. E o contexto é outro. É redondo no quadrado. Só e apenas isso. Mas penso que ainda são eventos de extrema importância, porque é uma forma que os artistas de todos os cantos do país têm de expor, mostrar a sua produção e ao mesmo tempo trocar informações, contatos... Diga-me em qual outro lugar um artista totalmente desconhecido pode mostrar sua música totalmente desconhecida para mil, dez mil, cem mil ou até mais pessoas? Isso com todo o suporte de uma banda bacana, num palco bacana e ainda remunerado por isso? O problema é que essa fórmula de festival é que nem fogueira de palha:queima os três dias, depois se apaga e só volta a ser acesa no ano seguinte. Quase nada acontece fora disso. Quase... eu disse. Vai muito de cada um... Em relação a mídia, ela só dá suporte, algum que seja, aos maiores, que podemos contar ai, cinco festivais destes 300. E estes não têm mais o poder de revelar nomes. Até porque, com o advento da internet todos os grandes focos foram diluídos. Vivemos o momento do tudo ao mesmo tempo agora. Um grande artista pode surgir de onde menos esperamos.

BMH - Alguns anos atrás, você realizou uma turnê por alguns países da Europa. A cultura e arte européia agregaram ainda mais a sua arte? 

Reynaldo Bessa - Sim, muito. Absorvo tudo. Tento conhecer a música do local, a literatura, os músicos. Enfim, é sempre muito enriquecedor. Há três anos que vou tocar no sul da França. Ir a primeira vez é muito difícil, depois fica facinho... (risos)

BMH - Você lançou seu primeiro livro “Outros barulhos”(Prêmio Jabuti – Poesia - 2009). Depois vieram “Algarobas Urbanas” (Contos -2011) e “Não tenho pena do poema” (2012). Mais recentemente lançou “Cisco no olho da memória” (2013). Conte-nos como foi esse ponta pé inicial na literatura e o porquê de ter demorado tanto para nos brindar com seus escritos? 

Reynaldo Bessa - Sempre li muito, desde moleque. Descobri a paixão pela literatura muito antes de me envolver com a música. Lia para habitar a minha solidão que era imensa, devido as inúmeras fugas do meu pai em si mesmo. Aos vinte anos eu já tinha lido muita coisa, pra não dizer tudo, porque essa coisa é maior do que o mar. E já tinha muita vontade de escrever, mas achava que isso não era pra mim. Pensava que literatura era coisa do outro mundo. Achava que pra escrever um grande livro eu precisava estar morto... (risos)... Enfim, todos os grandes livros que eu lia, eram sempre de autores já falecidos. Então, literatura era uma coisa muito distante. Mesmo assim, eu escrevia, rasgava, escrevia de novo, jogava fora, rasgava, escrevia. Enfim, sempre escrevi. Não como agora, claro. Hoje escrevo profissionalmente. Escrevo todos os dias, é mesmo uma disciplina. E ainda têm as leituras diárias, as pesquisas, os artigos para revistas e jornais, enfim. Ai veio o Prêmio Jabuti com meu primeiro livro. Fiquei novamente assustado. E ai vieram outros prêmios. O meu livro mais recente teve menção honrosa no Prêmio Internacional de Literatura da UBE-RJ. Enfim, eles vieram, os prêmios. E isso me deu uma certa segurança. Meio que encheu a minha bola furada. Passei a acreditar mais nisso e a escrever ainda mais. E aos poucos vi que eu tinha mesmo jeito pra coisa. E com relação ao tempo, aprendi que tudo vem no momento certo, nem cedo nem tarde, como dizia Hemingway, na hora certa. Antes de ser um músico, um poeta, escritor de contos, romances, crônicas, um professor que adora os seus alunos, sou um artista. Meu barco é a arte e nele procuro sempre manter as velas içadas... e mar adentro...sempre.  



BMH - Além de escritor, poeta e músico, você também é professor. Conte-nos mais sobre seu lado docente. 

Reynaldo Bessa - Sempre fugi disso. Por fim percebi que tudo que fiz foi exatamente para isso: ensinar com arte e aprender, principalmente aprender. 

BMH - Quais as mais marcantes relações entre fazer música, escrever e ensinar?

Conhecer pessoas; estes universos absurdamente grandes, compartilhar vida, momentos, ver as reações, os sustos, os vislumbres, tirar alguém de um caminho enviesado, saber que apesar de todos os destroços que causamos por ai, no nosso percurso, todos sem exceção, querem uma única coisa: ser feliz. Participar da construção de um mundo melhor, seja ele utópico ou não, é estar atento ao ser. É ser tão. É mundo. Com a música, com a literatura, com a poesia, com a doação do saber, não importa. Através da arte, a felicidade é o alvo. 

- Agora vamos a um bate-pronto rapidinho... 

BMH - O que é música? 

Reynaldo Bessa - Ninfa inconstante. 

BMH - O que é poesia? 

Reynaldo Bessa - Poesia não é. Poesia há, ou não. 

BMH - O que é escrever? 

Reynaldo Bessa - Escapar de si mesmo. 

BMH - O que é ensinar? 

Reynaldo Bessa - A arte de receber doando. 

BMH - Um cantor... 

Reynaldo Bessa - Raimundo Fagner. 

BMH - Uma música... 

Reynaldo Bessa - The fool on the hill. 

BMH - Uma cidade... 

Reynaldo Bessa - Paris. Lá fui feliz. 

BMH - Um livro...

Reynaldo Bessa - “Viagem ao fim da noite” de Louis-Ferdinand Céline – escritor francês.(No original). 

BMH - Um poema... 

Reynaldo Bessa - O preciso. 

BMH - Um poeta... 

Reynaldo Bessa - O raro. 

BMH - Um artista potiguar... 

Reynaldo Bessa - Antônio Francisco Teixeira de Melo. 

BMH - O que é ser musicalmente humano? 

Reynaldo Bessa - Dançar no ritmo de si mesmo. 

BMH - Quando virá a Mossoró, seja para visitar, lançar outro livro ou fazer um show? 

Reynaldo Bessa - Isso será sempre uma incógnita. Talvez seja mais fácil entrar no reino dos céus. (risos)...Já cogitaram duas, ou mais vezes, já não sei, a ideia de me levarem para a feira do livro... Lembra da história do gato? Bom, por mim, espero que logo. Mas esse ano também tenho muito o que fazer. Lanço dois livros; um romance e um livro infantil (estreias) Tenho viagens pelo Brasil e exterior, tenho livros para revisar, alunos para orientar, oficinas de escrita criativa (que adoro), livros para ler, festas literárias, saraus, palestras em universidades, bate-papos, lançamentos...enfim... E eu não posso esquecer que tenho família, namorada, gato, ex-mulher, amigos e também inimigos.... Ufa...É a vida. 

BMH - Deixe um recado para Mossoró e para todos os artistas mossoroenses... 

Reynaldo Bessa - Sobre Mossoró, penso que já falei o suficiente. Para os artistas: “Não desistam. Nunca”.




domingo, 22 de fevereiro de 2015

As abelhas...



E as abelhas pequenas, sempre mansas
Com as asas peludas e ronceiras 
Vão em busca das pétalas das roseiras 
Que se deitam no colo das ervanças 
Com ferrões aguçados como lanças 
Pelo cálix das flores bebem essência 
E fazem mel que os mestres da Ciência 
Com os séculos de estudo não fabricam 
Porque livros da Terra não publicam 
Os segredos reais da Providência. 

(Poeta - Diniz Vitorino)

Falando musicalmente...


Quero a sessão de cinema das cinco, pra beijar a menina e levar a saudade na camisa toda suja de batom...

(Toda suja de batom - Belchior)

Chico César e Maria Bethânia - Onde estará o meu amor

Nesse encontro magistral da MPB, o Paraibano Chico Cesar acompanha a baiana Maria Bethânia na interpretação da musica, de sua autoria, "Onde estará o meu amor". Nesse jogo de letra, melodia e harmonia podemos sentir o poder do sentimento que a musica transmite, nos levando a uma verdadeira viagem ao mundo do mistério e da fantasia, quiçá da própria realidade!



sexta-feira, 13 de fevereiro de 2015

Não sei como vai ser o meu futuro...



Daqui pra frente eu não sei
Como vai ser meu futuro
Se vai ser amargo ou doce
Se vai ser verde ou maduro
Pois só os lábios de DEUS
Que sabe ler no escuro.

(Linha do Tempo - Antonio Francisco)

Falando musicalmente...



O vento faz eu lembrar você, as folhas caem mortas como eu... 

( A Lua e Eu - Cassiano)

Khrystal - Na lama, na Lapa/A carne

Estigmatizada como cantora de côco, essa potiguar forte mostrou que seu talento vai além das rimas capciosas, intrincadas e dançantes, Khrystal também é capaz de cantar suave, colocar sua voz forte e cheia de energia em melodias, doces, sambas, com arranjos bem trabalhados, como o sambinha abre-alas do disco “Na Lama Na Lapa” de autoria sua em parceria com a cantora/compositora e colega de Projeto Retrovisor, Valéria Oliveira. Munida de seu violão que dá o ritmo e o gingado da música que convida até os mais tímidos a arriscar alguns passos, a faixa concorre na categoria Música do Ano no Prêmio Hangar de Música. O clima de samba-canção é desfeito com “Aranha-Céu” (Ricardo Baya/Khrystal). Sua letra traz o desabafo de um trabalhador de vida difícil. O destaque da faixa vai para o guitarrista Ricardo Baya, que ditorce sua guitarra dando um tom pesado à música. Veja que belíssima interpretação ela faz na musica "A Carne", música de Seu Jorge, Marcelo Yuka e Ulisses Capelletti.

Fonte





terça-feira, 10 de fevereiro de 2015

Carta à Saudade



Onde dói o coração
Rua do passado
Brasil


10 de fevereiro de 2015


Tudo só me leva a ti. Se eu soubesse que essa minha mania de ser saudosista não me levaria a nada além de ti, eu não teria me deixado ludibriar por aqueles momentos tão lindos. Mas tudo foi tão diferente... Eu não sabia que, ao final, iria me tornar refém de alguém tão malvada. A sua cara é de mentirosa, você é cínica e sarcástica. Muito sarcástica.

Eu sei que não sou páreo para você, por isso venho aqui, por meio desta carta, deixar minha indignação diante de suas rudes ações, que eu diria um tanto quanto injustas. 

Além do destino – já escrevi uma carta a ele, semana passada, e nada de retorno – agora me vem você? Acho que estão tramando contra mim. Estão esperando a minha súplica, à todo o custo, tendo em vista a minha impotência de lutar contra o tempo. Por acaso já viu alguém vencer o tempo? 

Sua persistência é injusta diante da minha impotência de domar sentimentos, desejos e projetos alheios. Você não se faz necessária já que minha razão a expulsa. Não entre onde não é bem vinda. E não me venha com respostas prontas, nostalgia é uma coisa, você é outra.

Se tu soubesses como és enjoada, viciante e dolorosa pensaria várias vezes antes de ser saudade. Assim, talvez, tivesse o desejo de se tornar presença.   


Cordialmente,


 Lucas Vinícius.  

terça-feira, 3 de fevereiro de 2015

Paulo de Tarso - O espírito do amor



Sei que Paulo de Tarso foi romano 
Perseguiu os cristãos perante a cruz 
Mas um dia em Damasco, viu Jesus 
E a visão do amor, mudou seu plano 
Sem rancor, nosso mestre soberano 
Fez de Paulo de Tarso um bom cristão 
E por isso eu espero o meu perdão 
Porque sei que Jesus não tem rancor 
Um espírito de luz chamado amor 
Me tirou do umbral da solidão! 

(Lenelson Piancó)

Falando musicalmente...



Tem dias que a gente se sente como quem partiu ou morreu, a gente estancou de repente ou foi o mundo, então, que cresceu.
(Chico Buarque) 

Mariene de Castro - Raíz

Mariene começou sua carreira profissional como vocal de apoio para Timbalada, Carlinhos Brown e Márcia Freire. Certo dia, um amigo de sua mãe, Vicente Sarno, conseguiu uma data para ela no projeto Pelourinho Dia e Noite. Foi seu primeiro show, em dezembro de 1996. Já o músico e instrumentista Julio Caldas, da cidade de Ipiaú-BA, vem de uma nova safra de artista da Bahia. Aqui, nesse belo encontro no programa " Nos Braços de Uma Viola", apresentado por Saulo Laranjeira, curtiremos a voz doce e marcante de Mariene de Castro e o talento arrojado da viola de Julio Caldas. Vamos nos encantar com interpretação da música "Raiz" de autoria de J. Velloso e Roberto mendes.