terça-feira, 31 de março de 2015

BMH Entrevista - Biquini Cavadão


Da amizade entre amigos de colégio, no Rio de Janeiro, surgiu uma das bandas ícones do rock brasileiro: Biquini Cavadão. Com mais de 30 anos de sucesso, nenhum disco da banda passou despercebido aos ouvidos apurados do grande público. Foram mais de um milhão de cópias vendidas, composições atemporais e interpretações marcantes. Com uma interatividade sempre inovadora e admirável, o Biquini Cavadão - tendo Bruno Gouveia como interlocutor - nos cedeu uma entrevista que merece ser lida.


BMH Entrevista - Vocês estão completando 30 anos de carreira. Na verdade, são trinta anos de sucesso. Atravessaram gerações e continuam com canções emblemáticas na boca do Brasil. Conte-nos como começou isso tudo e quando vocês perceberam que não eram mais uma banda apenas do RJ, mas sim do Brasil inteiro? 

Biquini Cavadão - Acho que logo que Tédio, nossa primeira música e razão de termos assinado um contrato com a gravadora Polygram, ter chegado às rádios, vimos que o Brasil inteiro ouvia nossas músicas. Ainda assim, o ano de 1985 teve shows em sua essência no Rio. Foram alguns mais em São Paulo, e três em estados como Paraná, Minas e Espírito Santo. Para quem havia começado sem maiores pretensões no show business, isso para nós já era um salto e tanto. 

BMH Entrevista - Quais foram e quais são as principais influências do Biquini Cavadão? 

Biquini Cavadão - Ao contrário de bandas que se juntam porque gostam de levar um som de um determinado artista, o Biquini Cavadão surgiu pela amizade entre nós. Foi então que percebemos que cada um gostava de coisas diferentes que iam do samba à música clássica. E tinham bandas que um amava e o outro odiava Mas o somatório destas influências é que foi vital para gerar a nossa sonoridade. 

BMH Entrevista - Vocês foram a primeira banda de rock a criar um e-mail. Depois vocês inovaram mais uma vez e foram a primeira banda brasileira a ter um site. Foram os primeiros, também, a lançar um disco com um kit de acesso à internet. O show de vocês é conhecido pela interação incomparável mantida entre a banda e o público. Como vocês pensam essa interação intensa com o público e com os fãs? 

Biquini Cavadão - Antes de tudo isso, já tínhamos uma caixa postal para receber cartas que os fãs nos enviavam. E nós mesmo respondíamos. Sempre acreditamos nesta relação direta, sem intermediários com os fãs. O que hoje as pessoas falam de fidelização, nós já colocávamos em prática desde o início. 

BMH Entrevista - São muitas as músicas do Biquini Cavadão que se endereçam às mulheres. Em alguns grandes sucessos do grupo, nomes chegam a ser citados.Essas composições são meramente poéticas ou existe sempre uma musa inspiradora por trás desses grandes sucessos? 

Biquini Cavadão - Para cada uma existe uma história. Janaína surgiu quando fomos tocar me Miguel Couto, subúrbio de Nova Iguaçu. Era longe e lá morava uma pessoa que trabalha na minha casa desde que eu era pequeno. Foi assim que percebi o quanto ela se deslocava para trabalhar. E fiz a letra pensando na força da mulher no mercado de trabalho. Quanto à Dani, tudo surgiu numa noite em que Coelho e Manno Góes (do Jammil) resolveram escrever uma poesia num bar falando da hostess que se chamava Dani, que estava com a camiseta da Marilyn Monroe, que queria largar logo o trabalho para voltar pra casa, enquanto eles comentavam sobre Figo, Ronaldo e Zidane no Real Madrid. 

BMH Entrevista - O Biquini se mostra uma banda bem diversificada, musicalmente falando. Vocês falam de amor, na medida em que também fazem críticas sociais. Em músicas como “Janaína”, vocês criticam o fatídico dia a dia de um mundo complexado. Em outra composição mais recente, “Livre”, vocês fizeram alusão às reivindicações das ruas, ocorridas em junho de 2013. Qual a visão do Biquini Cavadão entre música e movimento/crítica social? 

Biquini Cavadão - Não somos ideológicos, somos cronistas do que está à nossa volta. Livre cita as manifestações mas o principal é falar sobre a nossa liberdade de se exprimir num momento em que o patrulhamento é ostensivo e de ambos os lados, por exemplo. Como artistas, fazemos músicas assim, mas existem aqueles que são geniais e que não precisam escrever sobre critica social. Para nós, é mais uma forma interessante como tema e que temos facilidade em abordar este assunto. 

BMH Entrevista - Dos anos 80 até os dias de hoje muita coisa mudou. Em relação à música isso não foi diferente. Novas preferências, estilos, bandas e até gêneros apareceram. Como vocês enxergam o rock brasileiro atual? 

Biquini Cavadão - Voltou ao underground, mas tem muita coisa boa. Locomotron, Los Porongas, Seu Zé, gente que faz boa música além do modismo vigente. Com perseverança, o grande público acabará os conhecendo. E é necessário ter essa paciência. Sempre lembro aos fãs que desde 1978 que a Legião já compunha de alguma forma. E só em 1985, sete anos depois, é que o seu primeiro disco chegou às lojas. 

BMH Entrevista - Depois de analisar o rock, como o Biquini Cavadão enxerga o novo cenário musical brasileiro? A qualidade da nossa música está perdendo a guerra contra uma forte indústria musical vigente, que por sua vez privilegia uma cultura mais descartável? 

Biquini Cavadão - Nada tem a ver com a indústria. Tem a ver com imediatismo de todos. Poucos compartilham boa música, preferem enviar bobagens uns pros outros. Se uma música é tosca, todo mundo sabe na hora. Se uma música é boa, o mesmo não acontece. E quando algo “bomba” na net. isso é creditado como sucesso - o que é um erro. Visibilidade não é igual a sucesso. A mídia precisa cada vez mais de conteúdo e os radialistas também querem algo que toque com mais aceitação. A indústria do disco supre a demanda daqueles que querem este tipo de som. Se queremos que este cenário mude, a mudança deve vir de nós ouvintes. 

BMH Entrevista - São mais de 1 milhão de cópias vendidas. Nenhum álbum lançado por Biquini Cavadão passou despercebido diante do Brasil. São muitos os hits de sucesso. Qual a sensação e qual a lição que vocês tiram disso tudo? 

Biquini Cavadão - Só podemos agradecer ao grande público por acreditar em cada projeto. Nossos discos não saem como pães de uma padaria. Eles precisam ser maturados e cada um representa nossas idéias. É bom ver que elas são bem vindas 

BMH Entrevista - Vocês já fizeram vários shows no exterior, inclusive em grandes eventos como o Hollywood Rock, onde abriram o show para Red Hot Chili Peppers. Depois de toda essa experiência, o Biquini pode nos dizer o que o rock brasileiro tem que não encontramos no rock que é tocado lá fora? 

Biquini Cavadão - Primeiramente, somos brasileiros e o rock é uma cultura importada, do mesmo jeito que ingleses, por melhor que toquem não farão sambas tão geniais como os nossos. Isso não quer dizer que sejamos ruins mas nomes como Sepultura são exceções à regra. No exterior você trabalha com um nível profissional em cada evento que é infinitamente superior ao que se vê por aqui. Estamos ainda humildemente aprendendo , mesmo com 30 anos nas costas a evoluir tecnicamente e profissionalmente. No quesito composições, entretanto, temos belas canções e grandes artistas. 



BMH Entrevista - Vocês já vieram algumas outras vezes a Mossoró. Bruno, inclusive, já circulou pela cidade e chegou a conhecer pessoalmente uns pontos turísticos. Para o Biquini, o que Mossoró tem de melhor? Ela já entrou no coração do Biquini Cavadão, né? 

Biquini Cavadão - Mossoró é uma cidade que nos encanta com seu povo e sua história. Saber de sua resistência no período de lampião foi muito legal e cada vez que venho, descubro mais sobre a hospitalidade potiguar. O que mais gosto de fazer é conversar com os fãs, trocar idéias sobre a perspectiva do mossoroense, de como enxerga o país, de como e o que deve ser feito para melhorarmos. A resistência é o coração de vocês. 

Agora vamos a um bate-pronto rapidinho... 

BMH ENtrevista - O que é música? 

Biquini Cavadão - Minha vida. 

BMH Entrevista - O que é compor? 

Biquini Cavadão - Meu suor. 

BMH Entrevista - O que é interpretar? 

Biquini Cavadão -  Minha alma. 

BMH Entrevista - O que é poesia? 

Biquini Cavadão - Minha fonte. 

BMH Entrevista - Deixe um recado para todos os leitores do blog Musicalmente Humano e para os Mossoroenses… 

Biquini Cavadão - Nesta ultima vez em que estive aí, as chuvas impediram o evento de acontecer. Estou mordido e louco de vontade de voltar para irmos à revanche mais alegre e divertida que poderemos fazer.

sábado, 28 de março de 2015

Lutar pelo bem comum...



Lutar pelo bem comum, 
Cada qual tem seu direito, 
Fazer o bem é virtude, 
Ser triste não é defeito, 
O mar dos olhos só sangra 
Se chover dentro do peito. 

(Poeta Diomedes Mariano)

Falando musicalmente...



Aqui ou noutro lugar que pode ser feio ou bonito, se nós estivermos juntos haverá um céu azul... 

(Um Amor Puro - Djavan)

Ítalo Queiroz e Santana, o cantador - A dança do dia a dia

O Artista e cantador Santana participou da gravação do DVD do pernambucano Ítalo Queiroz interpretando a música "A Dança do Dia a Dia". Essa é mais uma das belas canções do grande poeta compositor Flavio Leandro. Para lavar nossa alma de forma mais intensa, a gravação contou com a participação do instrumentista sanfoneiro Cezinha do acordeon. Enfim uma bela letra, uma grande harmonia instrumental e um show de voz e leveza mostrando o verdadeiro compasso e dança da vida!



quinta-feira, 26 de março de 2015

Em um dia qualquer



Hoje tanta gente passou por mim... 
O carteiro passou por mim, 
A mulher do supermercado passou por mim, 
Um cara apressado passou por mim, 
Uma criança assustada passou por mim, 
Um cachorro bonitinho passou por mim, 
Passou por mim uma brisa fria e aconchegante, 
Então eu lembrei: 
Faz tanto tempo que não te vejo! 

(Lucas Vinícius)

sábado, 21 de março de 2015

Nem tudo que passa a gente esquece



Mote: Passa tudo na vida, tudo passa 
          Mas nem tudo que passa a gente esquece. 

Os carinhos da mãe enternecida 
Os brinquedos dos tempos de criança 
O sorriso fugaz de uma esperança 
A primeira ilusão de nossa vida 
O adeus que se dá por despedida 
O desprezo que a gente não merece 
O delírio da lágrima que desce 
Nos momentos de angústia e de desgraça. 
Passa tudo na vida, tudo passa 
Mas nem tudo que passa a gente esquece. 

(Poeta Dimas Batista)

Falando musicalmente...


Nunca se entregue. Nasça sempre com as manhãs. Deixe a luz do sol brilhar no céu do seu olhar! Fé na vida, fé no homem, fé no que virá!
(Semente do Amanhã - Gonzaguinha)

Jorge Mautner e Paulinho Moska - Maracatu Atômico

Filho de Anna Illichi, de origem iugoslava e católica, e de Paul Mautner, judeu austríaco, Jorge Mautner nasceu pouco tempo depois de seus pais desembarcarem no Brasil: "Eu nasci aqui um mês depois de meus pais chegarem ao Brasil, fugindo do holocausto". 

Em 10 de dezembro de 1973, no período mais duro da ditadura militar, participa do Banquete dos Mendigos, show-manifesto idealizado e dirigido por Jards Macalé, em comemoração dos 25 anos da Declaração Universal dos Direitos Humanos. Do espetáculo participam também Chico Buarque, Dominguinhos, Edu Lobo, Gal Costa,Gonzaguinha, Johnny Alf, Luis Melodia, Milton Nascimento, MPB-4, Nelson Jacobina, Paulinho da Viola, Raul Seixas, entre outros artistas. 

Com apoio da ONU, o show acontece no Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro, transformado em "território livre", e resulta em álbum duplo gravado ao vivo. O disco foi proibido durante seis anos pelo regime militar e liberado somente em 1979. 

Neste vídeo com Paulinho Moska, ele canta Maracatu Atômico, música de sua autoria com Nelson Jacobina. Uma verdadeira viagem na música brasileira.




terça-feira, 17 de março de 2015

Uma seleção de poemas - Madja Fernandes



Esse Blog tem o imenso prazer em compartilhar poesias nas suas mais variadas formas. Quando a poesia é de alguém do nosso chão esse prazer é multiplicado exponencialmente.

Hoje, no nosso quadro Retalhos poéticos, trazemos a poesia da dix-septiense Madja Fernandes. Aluna do curso de Letras da Universidade do Estado do Rio Grande do Norte (UERN), Madja já teve seus poemas publicados no jornal Gazeta do Oeste e merece todos os espaços para demonstrar sua arte.

Poetisa por amor à escrita. Ela afirma que "escrever é vestir a alma com palavras, é renascer junto a cada novo poema, é aplacar a solidão nas noites frias e nos dias vazios, cheios de silêncio e contradições. Escrever é viver. Poetizar é viver. Então concateno as artes e vivo."

Segue, então, uma seleção de quatro poemas para que apreciem a arte da artista potiguar. 

O barco da minha vida 

O barco que transporta os meus sonhos,
é o mesmo que me faz sonhar...
A correnteza do rio leva-o para perto dos sonhos.
Quando o nível está elevado,
o joga para fora.
Destrói tudo, deixa apenas a esperança.

Quero construir outro barco.
Para poder renovar os sonhos
e não permitir que eles morram.
Juntando os pedaços do que sobrou
percebi que era possível fazer algo maior.

O sonho só aumentou.
Foi árduo reconstruir tudo aquilo.
Cada pedacinho que se juntava
formava algo cada vez mais esplendoroso,
mais forte, resistente a vendavais e trovoadas.

Quando tudo estava pronto, percebi que o meu barco, era eu.

O rio da minha infância

Naquelas margens quando o sol já
apontava descontente, tudo parecia inércia.
A aurora trazia consigo um tipo de renovação.
Tudo parecia mais claro e límpido como as
águas que corria.
O barulho da correnteza dava-lhe uma sensação
de paz para a alma assombrada daquela menina boba,
que já nem sonhava mais,
de tanto apanhar, cansou de insistir.

Parede lilás 

Menina, sente-se.
Espere mais um pouco,
o dia já está para raiar.
Não tenha medo de mim.
Sou inofensivo.

Beba comigo essa garrafa de vinho
que eu te ajudo a beber essa dor.
Só te peço que se aproxime devagar.
Vá deixando pelo caminho as mágoas antigas
isso não te fará nenhum bem.

Arrume-se.
Se vista como se estivesse se despedindo
da vida, como se fosse a última vez.
Ponha a melhor roupa.
Mas não se esqueça de trazer o principal.
Traga aquele coração límpido que tens.

Não traga bagagem, a viagem será duradoura.
E para evitar que alguém queira abandonar o barco no meio do caminho.
É melhor vir leve como uma pluma ao vento.
Para onde vamos não se faz necessário tanta bagagem assim.
Quero apenas te sentir.
Encostar os corações e ouvir o que eles falam.

Sem juras de amor eterno.
Apenas com os lábios selados.

Brilho celeste 

A Maria Madalena Brilho celeste,
era assim que eu ti via.
O astro mais iluminado do céu era você.
Memória de menina pequena.
Olhando o luar e as estrelas.
O bordado do céu é obscuro.
Era noite. Inaudíveis sons.

Para ver-te só bastava olhar o céu
em noites de luar...
O olhar cativante e inocente
buscava por você.
E você surgira, vestida de nuvens
e saudades. Via sua pequenina.

O seu brilho era tão forte que
sustava a minha visão.
Vasto turbilhão de desvarios.
Aparece-me agora.
Apeteço de volta aquela memória.

sexta-feira, 13 de março de 2015

Balaio musical - Antônio Francisco e Evandro Cunha



Desta vez, o nosso Balaio Musical traz para você a poesia e musicalidade mossoroense dos artistas Antônio Francisco e Evandro Cunha. 

Conhecido em toda Mossoró e nacionalmente através dos seus escritos, o poeta Antônio Francisco traz consigo uma paixão imensa pela música. São muitas as composições do artista que, infelizmente, ainda estão no anonimato, mas que trazem, em toda sua complexidade, a essência erudita com seu toque popular. 

Parceiro de Antônio Francisco desde sempre, Evandro Cunha escreve e compõe no esforço prazeroso de renovar seus votos com a poesia. Esse é mais um artista que acredita na coqueluche cultural que pode se tornar contagiosa a cada sopro de arte. 

Para valorizar os artistas da terra, o Blog Musicalmente Humano, disponibiliza duas músicas feitas através da parceria dessa dupla notável. A primeira é "Bomba relógio", interpretada na voz do próprio Evandro Cunha com vocal de Isabela Jade. A segunda é a música "Filho da seca" interpretada por Lucas Vinícius (voz e violão), acompanhado por Matheus Cunha (escaleta). 

A sensibilidade musical nos permite sermos mais humanos, então aproveitem. 

As duas músicas estão disponíveis para download.
    

segunda-feira, 9 de março de 2015

João Bosco - MPB Petrobras

No último final de semana, 07/03, Mossoró pôde apreciar o que temos de melhor na nossa música. Através da bênção cultural do Projeto MPB Petrobras - parceria da estatal com as empresas Caderno 2 Produções Artísticas e Agenda Propaganda - se apresentou no palco do teatro Dix-huit Rosado, o cantor, compositor e violonista João Bosco. 

Com mais de 40 anos de uma carreira admirável, mineiro de Ponte Nova, João Bosco cantou seus maiores sucessos e contou algumas de suas histórias vividas ao lado de notáveis parcerias como: Chico Buarque de Holanda, Vinícius de Moraes, Tom Jobim, Milton Nascimento e Elis Regina. 

Nome eterno na música popular brasileira, João Bosco conseguiu levantar alto coro de um teatro felizmente lotado, em clássicos como: De frente pro crime, Jade, O bêbado e o equilibrista, Brinquedo de papel machê e Corsário. Ao final do show, todos saíram embriagados com a poesia e musicalidade do artista. 

Deste espetáculo foi possível retirar duas certezas. A primeira é que Mossoró necessita de mais espetáculos à essa altura  e a segunda é que a música brasileira, na sua mais pura essência, é a melhor do mundo.

O Blog Musicalmente Humano fez alguns registros de momentos do show e posta aqui para curar um pouco da gostosa ressaca cultural deixada por João Bosco. 














quinta-feira, 5 de março de 2015

A casa que a fome mora



Vi a gula pendurada 
No peito da precisão, 
Vi a preguiça no chão 
Sem ter força de vontade, 
Vi o caldo da verdade 
Fervendo numa panela 
Dizendo: aqui ninguém come! 
Ouvi os gritos da fome, 
Mas não vi a boca dela. 

(A Casa que a fome mora - Poeta - Antonio Francisco)

Falando musicalmente...



Ela teimou e enfrentou o mundo, se rodopiando ao som dos bandolins...

(Bandolins - Oswaldo Montenegro)

Meu Brasil de canto a canto - Genildo Costa

Genildo Costa Silva Natural de Grossos - RN, formado em Ciências Sociais pela Universidade do Estado do Rio Grande do Norte (UERN), radicado neste município desde 1985, quando chegou à cidade para residir na Casa do Estudante de Mossoró, começou seu trabalho com a música ainda nos festivais da Rádio Rural, na década de 80, chegando a classificar para uma das finais com a música “Aspiração da América”. Foi coordenador do projeto “Canta Nordeste” realizado em Natal pela TV educativa, participou de vários festivais de músicas, foi também o coordenador do Projeto Canto Potiguar, realizado com sucesso no Teatro Dix Huit Rosado, com muito esforço conseguiu gravar o seu primeiro CD ¨Cores e Caminhos”, nesse CD, conseguiu emplacar três músicas na trilha sonora do filme “Caldeirão do Diabo”. Genildo Costa, é cantor, músico compositor e poeta. Aqui ele interpreta nordestinamente, com maestria, a musica "Meu Brasil de canto a Canto", letra do poeta Antonio Francisco musicalizada pelo próprio Genildo onde nos relata a saga desses grandes heróis pelo Brasil.





terça-feira, 3 de março de 2015

O conto de madalena sobre o homem enraizado



Madalena era o nome da professora do ensino fundamental que costumava sempre contar as histórias sobre as mais variadas coisas existentes, e jamais existentes, neste mundo de meu Deus. Tinha sempre à sua volta uma plateia atenta e curiosa que não piscava até o acabar das suas histórias. Esse público, com faixa etária de 7 a 8 anos, era fascinado por ela. Mas em um determinado dia, o sol baixou sua luz, o mundo girou mais devagar e passou a se resumir ali, naquela pequena sala de aula com mesinhas coloridas e cartolinas na parede. É que o foco das crianças nunca fora tão grande em Madalena com seu conto sobre o homem que criou raiz.

Ela contava sobre um homem, morador de um lugar indefinido na terra, que passando tanto tempo sentado, sem sair do lugar e imóvel, começou a criar raiz. Tudo se inicia quando seus pés começaram a afundar no chão. Mas o homem estava tão desleixado e tão paralisado que não se deixou notar por aquilo que lhe acontecia.  Suas pernas ganhavam maiores comprimentos, sua pele esticava, seus ossos cresciam e cada vez mais seus pés se enraizavam naquele solo. Dali em diante estava estabelecido uma certa dependência deste pobre homem com a sua terra. Era da terra que ele tirava os nutrientes necessários para viver. A cada dia que passava, mais a terra o amava e mais ele amava a terra. 

A história ficou conhecida naquele lugar. Já era sabido por todos que, naquela cidade, havia um homem que criara raiz sentado em sua cadeira. Havia muitas versões sobre isso. Poetas afirmavam ser a personificação do patriotismo e nacionalismo, cientistas tentavam explicar a relação do solo com o organismo humano, e outros simplesmente diziam que era tudo conversa afiada, afinal isso era impossível de acontecer. Naquela altura, até mesmo o homem enraizado já tinha percebido o seu estado, e quando isso ocorreu, o seu espanto não foi maior que sua tristeza.

Isso se deu, pois, até ele perceber que estava enraizado, muitas pessoas passaram por ele. Algumas tentavam contar aquele segredo visível, outros só conversavam sobre assuntos diversos. Muitos, de curiosos ou colegas passageiros, passaram a ser fortes amigos dele. O homem também tinha se apaixonado. Ele caiu de amores por uma mulher que começou a cuidar dele naquele estado, já impossibilitado de sair da cadeira e ir para lugar qualquer. Ela estava lá todos os dias, muito atenciosa e amorosa, ganhou o coração do homem enraizado e pôde dar o dela para ele.

Mas com o tempo as coisas mudam. Pessoas que iam visitá-lo deixaram de ir, algumas por motivos pessoais, algumas porque foram embora daquela cidadezinha, outros porque tinham cansado de ir todos os dias. Aquele homem, preso ao solo através dos pés, a cada dia que passava temia mais seu futuro. O que seria dele? Todos poderiam ir embora, tinham grande independência em relação a vida, eram livres. Mas ele estava ali, prostrado em sua cadeira. E a mulher que ele amava, com toda a sua liberdade diante de si, iria permanecer ali com ele? 

Os mementos vividos pelo homem enraizado ao lado de todos que estiveram com ele naquele momento, estariam guardados para sempre em sua memória. Tudo que ele vivera de forma mais intensa, ali, sentado naquela cadeira, nunca iria sair do seu coração. Mas para que ele conseguisse alçar novos voos, ir adiante, ele precisaria romper aqueles fortes laços que lhe obrigavam a estar naquele mesmo lugar durante todos aqueles dias. O homem enraizado tinha o mundo aos seus pés, mas estava preso a ele. Se ele quisesse ser livre, ele teria que romper aquele enraizamento. Para isso, seria preciso: força, coragem, objetivo...

Madalena encerrou a história, mas as crianças permaneciam estáticas. Na verdade, elas esperavam o final. O que teria acontecido com aquele homem? Naquele silêncio, o barulho da imaginação das crianças soava alto! Algumas olhavam para os seus pés, como se confirmassem que não tivesse criado raiz durante a história. Apesar da espera, nenhuma criança chegou a perguntar a Madalena o que teria acontecido com aquele homem. Elas preferiram conversar entre si. 

Cada uma das crianças tinha um pensamento sobre o que de fato ocorreu ou sobre o que de fato fariam elas naquela situação... Madalena, cheia de orgulho e com sentimento de realização, entendeu que ela conseguira passar a moral da história. E que dali em diante, aquelas crianças se enraizariam de forma cuidadosa e inteligente.