quinta-feira, 22 de maio de 2014

O contratempo do tempo



É difícil explicar o sentimento nostálgico. Quando menos se espera vem aquela lembrança do colégio, da briga com a namoradinha ou de um dia qualquer em que você foi para praia com a família. O mais interessante é que muitas vezes nós temos nostalgia de coisas que para muita gente, se nós contássemos tal fato, iria parecer banal. Afinal, quem liga se você passou muitas vezes por aquele caminho para tirar xerox, ou se era naquele local que você sempre esperava o ônibus, quando cursava a faculdade? A individualidade prevalece, pois só você vai entender e sentir de novo, como se fosse uma amostra, tudo aquilo que você sentiu.

A nossa individualidade, moldada pela nossa personalidade, valoriza fatos que mereciam ser esquecidos ou que na hora em que ocorreram nem pareciam importantes, mas que depois se fizeram lembrar. Outro fato interessante é que não há pausas na vida, ela não para. Isso é maravilhoso. É por essa razão que quando nós menos esperamos acontece outro fato que vai ficar marcado pelo resto de nossas vidas.

É valido fazer uma analogia da vida com o tempo na música. Ele nunca cessa, há períodos de pausa, silêncio, mas essa ausência de som também faz parte da música, é considerada música e está dentro do tempo dessa música. Essas nostalgias poderiam ser representadas como um contratempo musical. Em música, o contratempo é o deslocamento do acento do tempo forte para o tempo fraco. O nosso apego a muitos momentos vividos anteriormente em nossa vida, nada mais é que a valorização desses momentos em um tempo deslocado, ou seja, como o contratempo, é o deslocamento da felicidade do momento já vivido para um momento indefinido.


Talvez daí, surge a explicação para que nós possamos entender o porquê de sermos tão apegados a alguns fatos passados, mesmo que insignificantes e mesmo que saibamos conscientemente que tais momentos nunca voltarão. Talvez a música da vida precise de um contratempo, algo para ornamentar e torná-la mais bela ainda. Afinal, a vida em sua plenitude é magnífica, ela não poderia permitir que voltássemos fisicamente ao passado, pois assim abandonaríamos o futuro e junto com ele, as possibilidades de se viver novos momentos para serem lembrados em um futuro mais distante. Esse é o ciclo, essa é a vida.

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