segunda-feira, 27 de abril de 2015

Ed Motta e o problema linguístico



Eu sou fã de Ed Motta, musicalmente falando. Sempre falei muito bem sobre seus dons e sua muito bem desenvolvida musicalidade. Mas o assunto que quero abordar aqui não é esse. Infelizmente, fora do campo musical, Ed já se mostrou muitas vezes como preconceituoso, falando algumas bobagens em relação até mesmo à música brasileira. No último episódio, talvez o mais famoso, Ed Motta falou mal dos brasileiros - como povo -, e ainda por cima, tocou num ponto crucial no qual atinge a nação como um todo: a nossa língua.

Com uma declaração carregada de preconceito linguístico, Ed Motta disparou que não usaria a língua portuguesa no seu show, que seria realizado fora do Brasil. Em substituição, utilizaria a língua inglesa. "O mundo inteiro fala inglês, não é possível que o imigrante brasileiro não saiba um básico de inglês. A divulgação da gravadora, dos promotores é maciça no mundo Europeu, e não na comunidade brasileira", afirmou.

A partir dessa declaração podemos fazer algumas análises. Uma delas é sobre a veracidade dessa afirmação. Costumeiramente, se tem uma senso comum gigantesco sobre o problema linguístico vivido em nosso mundo. As pesquisas indicam que a língua mais falada no mundo é o mandarim (chinês), em segundo lugar aparece o hindi (falada na Índia), então, na terceira posição, aparece o inglês.

Tida como língua mundial, muitos se arriscam a dizer que dominam o idioma inglês, mas essas mesmas pessoas quando colocadas em uma situação em que se necessita do idioma, problemas de comunicação aparecem nitidamente. Dominar um certo idioma tal como os nativos é trabalho para muitos anos. Então, se torna imprecisa a afirmação de que o mundo inteiro fala inglês.

Outra parte que pode ser facilmente rebatida - desprezada - é a que ele se mostra surpreendido se "o imigrante brasileiro" não souber o básico de inglês. Sobre isso, o que pode ser dito é uma declaração inconsistente. Depende de onde o brasileiro esteja morando. Se esse imigrante não mora num país que fala e não tem o inglês como língua oficial, ele teria que saber o básico de inglês por quê?

A desigualdade linguística é um mal que se disfarça. Em meio a tantos problemas, ela é deixada de lado até mesmo por pessoas que lutam pela diminuição das desigualdades sociais. A língua é, sim, um problema social e deve ser encarado. No nosso mundo atual, vivemos obrigados a dominar o inglês, uma vez que todo discurso mercadológico aponta que somente eu não o falo.

Mas essa polêmica de Ed Motta me fez despertar a atenção para um paradoxo ocorrente no Brasil. Depois dessa afirmação, muitos se mostraram defensores da língua materna e até mesmo contra uma desigualdade linguística. Por outro lado, muitos desses que criticaram, iriam, à noite ou no final de semana, para um cursinho de inglês.

Derivando-se dessa polêmica, apareceu uma matéria no globo na qual muitos artistas tomaram posição sobre esse fato. Foi outro desastre. O cantor Edu Falaschi, da banda Almah, afirmou que já enfrentou problemas parecidos, num show no Japão, quando um fã brasileiro reclamou da língua usada por ele. Diante desse problema, ele afirma que agiu da seguinte forma: "Eu dei risada e respondi em tom de brincadeira e em português: 'E aí, cara, tudo bem? Na real aqui é Japão, você tá viajando!'. Ele sorriu e continuei o show todo falando em inglês. Acho indelicado com o público local ficar falando em português com uma minoria de dez num show com 2 mil japoneses".

Lendo essa reportagem, eu fiquei confuso. Por um momento, achei que ele estivesse fazendo um show na Inglaterra, nos EUA ou em outro país anglófono. Mas não, era no Japão. Até onde sei, o Japão não tem o inglês como língua oficial. Daqueles "2 mil japoneses" quantos realmente falam e dominam o inglês?

Bom, respeito quem quer aprender ou quem quer usar o inglês, ou qualquer outra língua estrangeira, no profissional, como e quando quiser. O que não podemos aceitar é a imposição dessas outras línguas e nem o preconceito linguístico.

O imperialismo linguístico está aí pra quem quiser ver. Ele anda escondido, camuflado, mas ao nosso lado. Afirmo ser tão possível enxergá-lo quanto eliminá-lo. Como? Isso é razão para um outro artigo que postarei em breve. 

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