terça-feira, 17 de junho de 2014

Hipocrisia musical



Falar é fácil, agir nem tanto. Como fala a tão famosa e repetida frase: a teoria na prática é outra. Talvez seja por essa a razão que muitos falam, criticam e avaliam os outros, mas não agem como pregam e muitas vezes terminam agindo como aquelas pessoas que criticara. Não há dificuldade em dizer o que faria se fosse aquela outra pessoa ou qual o correto a ser feito, mas o difícil é se colocar no lugar do outro ou naquela situação. De acordo com o dicionário Aurélio, hipocrisia é o “vício que consiste em aparentar uma virtude, um sentimento que não se tem”. Uma falsidade contada para você mesmo e para os outros.

Em todos os lugares, em todos os casos nós podemos encontrar esse vício. Na música não é diferente. São muitos os que escrevem e que cantam o que verdadeiramente não sente. A este fato dou o nome de hipocrisia musical. O ato de compor é poético quando verdadeiro, quando o poeta nos relata o que vem de sua alma, o que ele tem vontade de dizer para o mundo. É como transbordar seus sentimentos através de palavras e de sons. A partir disso, nós sentimos o que ele sente, ou até mais do que ele sente. Do contrário não sabemos se se pode classificar como poético.

Lamentavelmente, na atualidade não é difícil ver alguém cantando o que nunca sentiu ou o que nunca viveu, numa tentativa frustrada de fabricar sentimentos. Dentro desse processo de produção em massa da música, as emoções vêm sendo fabricadas, como produtos padronizados e plastificados na tentativa de atingir público que a cada dia vem se importando menos sobre as origens e a poesia do que se escuta. A hipocrisia musical, assim como a poética, ajuda na banalização do sentimento, da emoção e da poesia. Ela não se preocupa com as consequências que pode causar, ela é individualista e visa sua boa colocação nas mídias por estar padronizada com os produtos que são os sucessos atuais.

Na verdade, poesia e padronização não combinam em nada. A poesia é a arte de inovar, é dizer o indizível, é imaginar o inimaginável.  Também não combina com a hipocrisia, já que nela não há falsidade, e se um dia houver, será uma falsidade sentimental e precisa diferindo daquela falsidade seca, falsidade falsa. A hipocrisia deve ser evitada em qualquer forma, não só na música e poesia. De fato todos nós somos um pouco hipócrita, é totalmente válido dizer isso, seria um hipócrita se não dissesse, mas sempre tento evitar. O que escrevo aqui, são inspirações que surgem quando eu menos espero e quando não tenho o que escrever, não escrevo.


Se escrevermos, cantarmos, compormos sem mentiras, sem hipocrisia, teremos um mundo mais poético, mais inovador, mais transparente, mais sentimental e menos falso. 

Nenhum comentário:

Postar um comentário