Falar é fácil, agir nem tanto.
Como fala a tão famosa e repetida frase: a teoria na prática é outra. Talvez
seja por essa a razão que muitos falam, criticam e avaliam os outros, mas não
agem como pregam e muitas vezes terminam agindo como aquelas pessoas que
criticara. Não há dificuldade em dizer o que faria se fosse aquela outra pessoa
ou qual o correto a ser feito, mas o difícil é se colocar no lugar do outro ou
naquela situação. De acordo com o dicionário Aurélio, hipocrisia é o “vício que
consiste em aparentar uma virtude, um sentimento que não se tem”. Uma
falsidade contada para você mesmo e para os outros.
Em todos os lugares, em todos os
casos nós podemos encontrar esse vício. Na música não é diferente. São muitos
os que escrevem e que cantam o que verdadeiramente não sente. A este fato dou o
nome de hipocrisia musical. O ato de compor é poético quando verdadeiro, quando
o poeta nos relata o que vem de sua alma, o que ele tem vontade de dizer para o
mundo. É como transbordar seus sentimentos através de palavras e de sons. A
partir disso, nós sentimos o que ele sente, ou até mais do que ele sente. Do
contrário não sabemos se se pode classificar como poético.
Lamentavelmente, na atualidade não é
difícil ver alguém cantando o que nunca sentiu ou o que nunca viveu, numa tentativa
frustrada de fabricar sentimentos. Dentro desse processo de produção em massa
da música, as emoções vêm sendo fabricadas, como produtos padronizados e
plastificados na tentativa de atingir público que a cada dia vem se importando
menos sobre as origens e a poesia do que se escuta. A hipocrisia musical, assim
como a poética, ajuda na banalização do sentimento, da emoção e da poesia. Ela
não se preocupa com as consequências que pode causar, ela é individualista e
visa sua boa colocação nas mídias por estar padronizada com os produtos que são os sucessos atuais.
Na verdade, poesia e padronização
não combinam em nada. A poesia é a arte de inovar, é dizer o indizível, é
imaginar o inimaginável. Também não
combina com a hipocrisia, já que nela não há falsidade, e se um dia houver,
será uma falsidade sentimental e precisa diferindo daquela falsidade seca,
falsidade falsa. A hipocrisia deve ser evitada em qualquer forma, não só na
música e poesia. De fato todos nós somos um pouco hipócrita, é totalmente
válido dizer isso, seria um hipócrita se não dissesse, mas sempre tento evitar.
O que escrevo aqui, são inspirações que surgem quando eu menos espero e quando
não tenho o que escrever, não escrevo.
Se escrevermos, cantarmos,
compormos sem mentiras, sem hipocrisia, teremos um mundo mais poético, mais
inovador, mais transparente, mais sentimental e menos falso.
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