quinta-feira, 31 de março de 2016

O triste se faz poesia




Entrou no quarto e fechou a porta. "Não me incomode" estava escrito em uma placa improvisada com uma folha do caderno da escola, presa à porta com um durex. Naquele momento, Jorge não queria mais saber de nada. Deitou em sua cama, apagou a luz e sumiu por um tempo da vida lá fora. Ele tinha acabado de chegar da escola, estava enfadado com tantas lições. Não sabia se odiava mais matemática ou se detestava mais português, para ele não havia geografia que desse jeito, ciência que resolvesse ou história que o curasse. Sua história estava às avessas.

Naquele momento, Jorge buscava a felicidade que há tempos tentava encontrar. Aliás, chegou até a esperar que a escola o ensinasse sobre felicidade... tempo perdido.

Ao ver tal movimento sua mãe se aproxima da porta:

- Jorge? O que houve?

Silêncio.

Era aquele silêncio barulhento que ardia no fundo do seu coração. Jorge, trancado em seu quarto, frustrado por não ter encontrado a felicidade, não deu ouvidos aos chamados de sua mãe, levantou, abriu novamente o caderno da escola e na parte destinada à disciplina de matemática decidiu escrever. O professor de Português jamais pedira para que ele escrevesse um poema. Mas num ato próprio de rebeldia, Jorge começa a escrever. Ele escrevia sobre si. Ele escrevia sobre a vida. Ele escrevia!

Lá fora, sua mãe continuava a perguntar se estava tudo bem. Mas, depois de um tempo escrevendo, Jorge não escutava mais sua mãe. Ele entrara num mundo fantástico. Que mundo era aquele?! Aquela sensação fantástica da escrita libertou Jorge, então ele se descobriu poeta. Descobriu que a poesia poderia salvá-lo daquele mundo no qual ele estava inserido. Descobriu que a poesia salva.

Naquela altura, sua mãe já tinha desistido de chamá-lo, já tinha ligado para o pai vir até a casa, pois Jorge tinha se trancado em seu quarto e não respondia. Afinal, poderia ter acontecido algo sério que o jovem não queria contar. Jovens são complicados!

Depois de um certo tempo, o necessário para que ele escrever seu primeiro poema, Jorge abriu a porta do quarto, com um papel na mão e um sorriso no rosto. Ele não mais parecia um jovem triste.

Sua mãe, aflita, pergunta o que houve e ele responde:

- Eu estava doente.

- Doente de que? Seu pai já está vindo, vou só me trocar e vamos ao médico.

Com um riso de felicidade encontrada recentemente, Jorge responde:

- Coloquei tudo para fora, mãe. Era só um caso de poesia presa.


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