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MH - Como começou sua relação com a música?
Fábio
Roberto - Minha relação com a música começou quando eu fui
coroinha da igreja do bairro paredões, Mossoró, e lá tinha um projeto chamado
de Projeto Esperança, idealizado pelo Padre Guido Toledo, esse projeto
reunia o pessoal do bairro. Neste projeto eram ofertados muitos cursos,
inclusive cursos de música. Então, comecei a me envolver com a música
quando eu entrei no curso de percussão. Depois daí, um amigo meu que conheci no
Projeto Esperança, me chamou para montar um grupo de pagode, na época o pagode
estava em alta, e então montamos o “Swing do Samba”. Esse meu amigo tocava percussão
muito bem e também, cavaquinho, então começamos a banda comigo tocando tantam.
Certa vez o braço do cavaquinho da banda, que não era muito bom, rompeu e então, o meu amigo cavaquinista o abandonou. Assim, eu pedi para que ele me deixasse ficar
com o cavaquinho para eu tentar aprender alguma coisa. Ele me deu o cavaquinho,
eu consertei o braço, mandei colar, e comecei a estudar. Daí eu comecei a
gostar, e me identificar com o cavaquinho, que foi meu primeiro instrumento,
nessa época eu tinha de 17 a 18 anos, idade que muitos consideram tarde para o
começo de uma carreira musical, quando a idade indicada para se começar a
estudar música, para se tornar um grande músico, é de 6 a 10 anos. Então
eu comecei a tocar cavaquinho na nossa banda Swing do Samba. Lembro que nessa
época eu ia ver um senhor chamado Totonho que tocava cavaquinho, mas como ele
era canhoto eu não conseguia compreender bem os acordes que ele fazia e foi aí
que entrei na escola de artes da prefeitura de Mossoró e comecei a ter aulas
com o professor Carlos Batista. Nessa época a nossa banda já tocava em alguns
lugares, na noite. No decorrer que eu fui estudando música, a banda também foi
se estruturando, aumentando o número de instrumentos e assim foi se tornando
algo mais sério, já que antes era mais uma brincadeira. Lembro que nessa época,
em Mossoró, tinha tudo do samba: Inalasamba, entre outras e também Swing do
Samba. Quando eu vi que eu estava desenvolvendo o estudo do cavaquinho, optei
por entrar no Conservatório de Música, e assim foi, tentei, mas não passei na
primeira vez, fiquei na suplência, mas aí alguém desistiu, me ligaram e
disseram que tinha uma vaga. Assim eu consegui entrar no conservatório (nada foi
fácil!). No conservatório eu queria aprender cavaquinho, mas não tinha
professor. Então apareceu uma vaga para cavaquinho no Grupo de Chorinho do
Conservatório, já que faltava cavaquinho. Eu fiz o teste, o pessoal gostou e eu
entrei para o grupo. Esse foi mais um estímulo para que eu desenvolvesse mais ainda
meus estudos, já que eu participava então do grupo de chorinho do Conservatório
de Música de Mossoró, acompanhando pessoas muito mais experientes que eu, como:
maestro Batista, Lima Neto entre outros. Assim começou minha carreira musica.
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MH –
Como se deu a escolha da música como sua profissão?
Fábio
Roberto – Eu acredito que quando as coisas têm que ser, elas
caminham naturalmente. Eu participava
do grupo de chorinho e fazia um curso de manutenção de computadores. Eu já
tinha certa experiência nessa área e a instituição encaminhava os alunos com
melhores notas para algumas empresas. Eu fui encaminhado, então, para uma loja
bem conceituada daqui da cidade. Nesse caso, eu teria que deixar o grupo de
chorinho para começar a trabalhar lá. Mas aí o gerente da loja disse que não ia dar certo, pois já tinham sido indicados antes alguns alunos do IFRN, na época
o CEFET (que era uma instituição bem mais conceituada) e então fiquei sem meu
emprego, mas com a promessa do gerente da loja de me encaminhar para outro
local que estava precisando de um técnico. Na semana que iam me encaminhar para
outra loja, Lima Neto, do grupo de choro do Conservatório, me falou que eu iria
começar a receber uma bolsa para tocar no grupo. A bolsa era menor que o
salário da loja, mas aí eu analisei o que eu queria para a minha vida. Foi
nesse momento que parei, pensei e vi que seria músico. O engraçado é que antes
eu não pensava em ser professor, lembro que no início de tudo e com um cartão
de um amigo, eu comprei umas videoaulas para aprender cavaquinho e esse amigo me
falava que eu iria utilizá-las para ensinar para meus alunos, mas eu não me
imaginava como professor. No fim terminei utilizando essas videoaulas com meus
alunos (risos). Outra decisão importante que tive que tomar foi quando
eu participava do grupo samba nobre, na época se chamava Faixa Nobre, e já
tinha conseguido entrar na universidade, no curso de música. Meu tempo estava
muito cheio, tinha monografia, outras disciplinas da faculdade, tinha meus
choros para fazer... Então eu pensei: ou eu continuo na banda, onde era muito
bom o ambiente e eu me divertia muito, ou terminarei o curso regular e no tempo
certo. Então fui falar com André da Mata (cantor da banda) e disse para ele que
gostava muito da banda, mas iria priorizar a faculdade. E assim, consegui
terminar o curso no tempo certo, o que me possibilitou participar e passar no concurso
de professor para o Conservatório, onde estou até hoje.
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MH –
Até agora deu para perceber que o choro é bastante importante para você. Mas
como você vê a importância do choro para o Brasil?
Fábio
Roberto – Além do Ingênuo (grupo de choro da universidade) onde
estou há 14 anos, também sou coordenador do Cá entre Nós, outro grupo de choro
daqui da cidade. Na verdade o choro é o avô dos outros gêneros (samba, bossa
nova) porque no início o choro era a maneira de tocar as músicas europeias e passou a ser totalmente brasileiro porque tocavam de uma maneira que não
se tocava na Europa. Depois foram criados alguns padrões, como: as
três partes do choro, B, A e C; contraponto; Improvisos. Depois do choro vem o
samba, a bossa nova... mas o choro é o primeiro gênero totalmente brasileiro,
apesar de muitos historiadores musicais alegarem que antes dos portugueses
chegarem aqui, existia músicas indígenas com flautas, flautas de nariz entre
outros instrumentos típicos. Mas com harmonia, melodia e ritmo, o choro foi o
primeiro gênero musical brasileiro. Um gênero de alta qualidade, não é todo
mundo que toca um chorinho.
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MH – Como você vê o choro no Brasil nos dias de hoje?
Fábio
Roberto - O choro passou por várias transformações. Ainda existem
chorões que seguram a bandeira do choro mais tradicional, já outros que são
mais modernos. Por exemplo o Hamilton de Holanda e o próprio Yamandu Costa, são
considerados chorões, porém eles têm a influência do jazz entre outros gêneros,
e vai aos poucos incrementando isso no choro...
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MH –
Você acha isso válido, Fábio?
Fábio
Roberto - Eu acho legal. Penso que a música tem que evoluir
sempre, mas não se pode esquecer as tradições, pois se você modernizar demais vai
deixar de ser choro, perde a identidade. Porém se existe equipamentos mais
modernos, como: captadores, microfones e até instrumentos que venham para
melhorar a qualidade sonora, a gente tem que utilizar, assim como estudos,
como: escalas e harmonias.
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MH –
Como você definiria a música?
Fábio
Roberto – Para mim primeiramente vem Deus, depois minha família e depois a música.
Toda hora eu penso em música, por exemplo, nesse momento eu estou conversando
com você e já estou com uma música na cabeça. Para falar um conceito sobre
música é difícil. A música é muito abrangente, não teria um conceito formado
agora para te falar agora.
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MH –
Então você acha que o ser humano está longe de encontrar um conceito pleno
sobre a música?
Fábio
Monteiro – O ser humano em geral ainda não entendeu a importância
da música para ele. Pela música é possível transformar uma pessoa de
várias formas. Se o homem entendesse isso seria tudo melhor. Até mesmo as
músicas que tocam nas rádios podem influenciar toda uma população, civilização, tanto para o bem quanto para o mal. Já existem pesquisas comprovando que vacas que
escutam música dão melhor leite, ou aplicação de música clássica para bananeiras e as
bananas nascem com um gosto melhor. Então, se o vegetal sofre influência,
imagine um ser o humano. Então é difícil descrever com palavras o que é.
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MH-
Como a educação musical pode ajudar na transformação por um mundo melhor?
Fábio
Roberto – Se os governantes dessem a devida importância à música,
ou ao menos fizessem valer essa lei (nº 11.769, que obriga a música nas escolas) iria
beneficiar muita gente. Daria emprego para os graduados em música (licenciatura), incentivaria
as pessoas a terem uma melhor cultura, uma vivência e um estudo mais
aprofundado dentro da música. Através disso as pessoas começariam a ter uma
maior consciência sobre o poder da música sobre o ser humano. Infelizmente os
governantes deixam de valorizar não só a música, como também a arte como um todo. A educação é
a base de tudo, quando você tem uma boa educação, você tem uma boa saúde, por
entender mais sobre certas prevenções que devem ser feitas; Você respeita mais
outra pessoa, pois já que você entende a situação do outro, vai amá-lo mais. Então a
educação musical deve está incluída nessa educação tradicional.
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MH -
Você possui duas especializações, uma em arte e a outra em musicoterapia. Como
você acha que a arte pode nos tornar mais humano?
Fábio
Roberto - Muitas pessoas
são músicos, ou faz outro tipo de arte, mas quando você observa, você percebe
que a arte ainda não as tocou. Quando a arte toca a pessoa, a sensibilidade
dessa pessoa muda, ela começa a ver o mundo de uma maneira diferente. Há
pessoas que são “artistas”, mas a arte ainda não as tocou. Como exemplo, eu
posso citar Antônio Francisco. Se você conversar com ele, você vai perceber que
ele transmite uma paz, uma coisa boa, acredito que nele a arte chegou e não
saiu mais.
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MH –
Graduado e pós-graduado, como surgiu o interesse em cursar outra pós-graduação?
No caso, a musicoterapia.
Fábio
Roberto – Como eu falei antes, acho que as coisas acontecem como
tem que ser, é incrível. Eu tinha acabado de acordar e me veio algo na minha
cabeça que eu precisava usar a música, que eu tanto gosto, para ajudar as
pessoas. Assim, eu me lembrei da Casa de Apoio a Criança com Câncer. Eu já tinha
feito um projeto com Gianinni (cantor do Forró Danado) lá, anteriormente, onde
fomos tocar em um São João. Então fui lá e conversei com a assistente social
para que eu pudesse desenvolver algum projeto lá. Até então eu não conhecia
nada de musicoterapia, eu só queria de alguma forma tornar mais felizes as
crianças que estavam com câncer. Falei com Dr. Cury e nós criamos uma orquestra
lá na casa de apoio, Alegria de Viver, eu assumi a coordenação e assim se
estabeleceu aulas de flauta, de violão, teatro, de arte em geral. Eu fui cada vez
mais me interessando e um dia pesquisando na internet, vi que existia o nome “musicoterapia”,
até então eu não sabia. Pesquisei e vi que muita coisa da musicoterapia eu já
fazia intuitivamente, mas eu não tinha o referencial teórico. Me interessei pela
musicoterapia e comecei a pesquisar sobre o curso, vi que o mercado era amplo,
aqui na região (o mercado nessa área é escasso de profissionais) e me interessei
com essa nova possibilidade. Entrei em contato com o pessoal da Faculdade de
Ciências Humanas de Olinda (FACHO) e o pessoal me falou que uma nova turma estava iniciando, então eu e Huda (professora do Conservatório) nos interessamos e
nos inscrevemos no curso. Foram dois anos de curso. Pernambuco é um estado onde
a cultura é muito valorizada, diversificada e difundida, então foi muito
proveitoso para mim e recompensou todas as noites de sono durante as viagens de
ida e volta (Mossoró – Olinda). Hoje eu fico muito feliz quando vejo
depoimentos de várias pessoas da Casa de Apoio, que relatam que a
musicoterapia os ajuda muito. Depois que conheci a musicoterapia, pude ver a
música com outros olhos. Ela não foi feita só para simplesmente ser escutada, é
algo muito mais abrangente. É gratificante trabalhar com musicoterapia.
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MH – Como você definiria a musicoterapia?
Fábio
Roberto - É uma ciência que pode tratar as pessoas com os mais
variados tipos de patologia. Ajuda na prevenção de doenças, que é muito
importante, entre muitos outros benefícios. Espero divulgar e difundir a
musicoterapia aqui na nossa região. Futuramente, quem sabe possamos abrir uma
especialização na UERN, ou algo nesse sentido, para que mais pessoas possam
cursar e, assim, ajudar mais indivíduos que
precisam.
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MH –
Vemos muitas críticas sobre a música popular brasileira atual, tocada em rádio
e TV, apoiada e escutada por uma grande massa. Como você vê a música brasileira,
atualmente?
Fábio
Roberto – Vejo na música brasileira uma mistura muito grande de
vários ritmos, sotaques, com influências de outros países latino-americanos, de
países europeus, africanos e entre nós mesmos. A mídia transmite o que é do
interesse dela, no caso ela transmite uma música vendável, de entretenimento,
com letras e arranjos não muito aprofundados, são músicas fáceis de vender.
Claro que ainda há rádios onde é tocada uma música de maior qualidade, músicas
alternativas. Como fala um amigo meu, não vou te dizer que Aviões do Forró é
ruim, pois no São João de Mossoró, a Estação das Artes fica lotada. Na música
tudo é questão de ponto de vista, eu respeito. Mas penso fortemente que
deveriam ser oferecidas mais oportunidades e espaços para que pudessem ser
divulgados outros gêneros menos conhecidos e de muito boa qualidade, como o
chorinho. Não concordo muito nessa divulgação em massa de uma música com baixa qualidade
e com letras banais que podem influenciar toda a sociedade. A música influencia
o ser humano. Se fossem mais valorizadas músicas com letras mais bem
trabalhadas, que pudessem influenciar beneficamente a sociedade,
seria bem melhor para todos nós. Você pode perceber que hoje as pessoas não querem
mais um esforço para pensar algo mais complexo, as pessoas perderam a
capacidade de pensar musicalmente. Isso é complicado e deve ser repensado.
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MH – O que é ser musicalmente humano?
Fábio
Roberto – É compreender que a música transforma pessoas e fazer o
bem a todas as pessoas.
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MH – Um gênero musical?
Fábio
Roberto – Só um fica difícil, direi três: música clássica,
chorinho e música nordestina (em geral).
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MH – Uma música?
Bela entrevista com esse grande musico e grande homem, pessoa simples, humilde e artista, é mais um dos grandes talento sem palco da terra de mossoró!!!
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